Luta por dignidade e pela afirmação da cidadania
Martha Neiva Moreira, de Tunis
do Canal Ibase
Três anos após o início dos movimentos que resultaram na Primavera Árabe e na deposição de uma série de ditadores, entre eles Ben-Ali, que governava a Tunísia desdes 1987, os tunisianos se preparam agora para lutar pela afirmação da cidadania. Até então, a sociedade civil não tinha voz no país, que foi colônia francesa até meados da década de 1940 e depois sofreu com sucessivos governos ditatoriais.
Por isso, a expectativa dos tunisianos em torno do Fórum Social Mundial (FSM) é grande. A cidade, que tem 11 milhões de habitantes, espera receber cerca de 5 mil inscrições de 26 a 30 de março. Desde sábado, na Place de la Republique, principal ponto de encontro da cidade, duas tendas fazem a inscrição dos participantes. Ontem à tarde, o movimento no local era intenso.
“Este evento é importante para nós, sobretudo para jovens como eu, que nasceram em uma ditadura. A Tunísia é um país que ainda tem muita desigualdade. Temos muita pobreza no campo e uma elite muito rica nas cidades. Não queremos discutir política. Queremos debater dignidade e humanidade”, contou 26 anos, recém formada em Química, que fazia ontem à tarde a inscrição para o FSM.
A educadora Randha Jmail, de 46 anos, também foi fazer sua inscrição no Fórum. Ela mora em Paris há mais de dez anos e lá é membro de um coletivo de mulheres tunisianas que atua nas áreas de Educação e Direitos Humanos em toda a Tunísia. Usando o véu, com três filhos adolescentes e casada também com um tunisino, ela acredita que o FSM pode ajudar a consolidar a participação cidadã no país. Ela contou que cresceu em uma Tunísia sem voz, “oprimida por sucessivos governos”. “Não existiam em Túnis entidades como a que sou membro na França. Por isso acabei saindo daqui. Com os protestos de 2010, que derrubaram Bem Ali, a situação mudou. Hoje já é possível criar essas ONGs. Acredito que este Fórum vai fortalecer a ideia de que para transformar é preciso ter uma sociedade civil forte e atuante. Quero especialmente poder conhecer experiências e projetos ligados à educação de outros países”, disse Randha.
O Fórum, cujo tema deste ano é “Dignidade” foi aberto oficialmente hoje, dia 26, pela manhã, com a Assembleia de Mulheres. À tarde haverá a marcha dos povos. Amanhã, dia 27, será a vez de se debater a respeito da justiça social: democracia, acesso à saúde e à educação, liberdade, dignidade e cidadania.
Veja aqui a programação do Ibase no Fórum Social Mundial.