Entidades lançam carta global contra mineração
Martha Neiva Moreira
Do Canal Ibase
Em meio a imensidão do campus de El Manar, universidade em Túnis que sediou em março o Fórum Social Mundial (FSM), um grupo de cerca de 80 ativistas de várias partes do mundo se reuniram para discutir a atividade mineradora em seus países. Do encontro nasceu uma carta política que acaba de ser divulgada, estabelecendo ações de combate aos impactos sociais e ambientais da mineração. O objetivo é fazer um esforço global para pôr em questão as consequências geradas pelo setor, um dos principais na economia mundial.
Durante mais de três horas o grupo, que contou com representantes de organizações sociais do Brasil, Gana, Suazilândia, Finlândia, França, Zimbábue, Chile, Venezuela, África do Sul, Malawi, Filipinas, Grécia, entre outros países, trocaram experiências e estabeleceram prioridades de ações contra as empresas mineradoras. O que ficou claro nas falas de cada um é que a indústria extrativista é um dos motores do sistema capitalista, gerando impactos ambientais e sociais irreversíveis nos territórios. Não faltaram exemplos de cidades próximas às minas que já sofrem falta de água por conta do uso indiscriminado do recurso pelas companhias mineradoras; ou contaminação do lençol freático por causa da química usada na lavagem do minério; ou ainda desmatamentos de áreas verdes; perseguições por parte dos donos das minas a ativistas que denunciam irregularidades trabalhistas, entre outros problemas.
A atividade, parte da programação do FSM, foi organizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), por meio do projeto Diálogo dos Povos, em parceria com a Trust for Community Outreach and Education (TCOE), da África do Sul. A discussão ficou um tanto mais complexa, já que o mapa da mineração no mundo mudou, como observou Moema Miranda, diretora do Ibase e coordenadora da reunião junto com Mercia Andrew, do TCOE:
– A complexidade que se tornou a exploração de recursos minerais no mundo nos obriga hoje a pensar estratégias conjuntas. Algum tempo atrás, eram as empresas de países do Norte que exploravam as terras de países do Sul. Hoje, não é mais assim. Já temos empresas, como a Vale, por exemplo, se expandindo pelo mundo.
Entre as ações de combate estão estabelecer o dia 19 de outubro como o Global Frackdown – dia mundial de combate à indústria mineradora e criar conjuntamente um banco de dados sobre a atuação desta indústria nos países. Também foi definido que será produzida uma cartografia (mapeamento) dos grupos e suas estratégias de combate à mineração, além de um dia mundial de luta contra a indústria mineradora. Todos os principais pontos de discussão e propostas de ações foram reunidos em uma carta política.