Na Aldeia Maracanã, a copa da violência
Camila Nobrega e Rogério Daflon
Do Canal Ibase
A violência da Polícia Militar contra indígenas da Aldeia Maracanã se intensificou desde o último domingo (15/11). Os indígenas e manifestantes que os apoiam alegam que o governo do Estado do Rio e o consórcio da obra do Maracanã não podem derrubar as casas do entorno do Museu do Índio, porque elas integram o complexo do museu em mais de 14 mil metros quadrados. E, por isso, resolveram resistir. O índio José Guajajara permaneceu numa árvore por quase 26 horas. A cena já virou símbolo da luta indígena.
Kemakwin Xukurú Itápewa, um dos índios que foi preso, contou que a tropa de choque chegou ao museu às 19h28 de domingo, exigindo que todos saíssem, sob alegação de que ali seria feita uma reforma. Como os índios e ativistas não saíram, houve, diz Itápewa, agressões. Em março, os índios que ocupavam o local foram retirados com truculência, gás lacrimogêneo. E nos últimos dias, resolveram voltar lá.
– Eles queriam derrubar as casas ao lado que pertencem ao museu. Como perceberam que resistiríamos, resolveram avançar sobre nós. Um parente meu tupinambá recebeu um soco no estomago, e duas ativistas também foram agredidas. Uma ativista grávida estava conosco. Os policais também nos agrediram verbalmente, com xingamentos e ironias. Pelo Estatuto do Índio, eles não podem nos encostar. Agiam como se não soubessem disso. E me deram uma gravata – diz Itápewa, acrescentando que ontem todos foram levados para a 18ª DP (Praça da bandeira).
Apenas a Polícia Federal pode deter indígenas. A midiativista Joana Carvalho, que acompanhou a ação no local, contou que um negociador foi içado por uma escada do Corpo de Bombeiros para falar com José Guajajara. Ele ficou sem comer durante um dia inteiro.
– Cerca de 300 manifestantes fizeram muito barulho, em apoio a Guajajara. Houve muita truculência na retirada dos outros indígenas – disse Joana.
O governo do Estado alega, como diz o site G1, que o espaço foi adquirido do Ministério da Agricultura e será incorporado ao Complexo do Maracanã.
A área é reivindicada na Justiça desde outubro de 2012 pelo movimento indígena. A entrada no espaço foi iniciada neste domingo, por volta das 17h de forma pacífica. Conforme o Grupo de Trabalho que dá suporte jurídico e discute a questão fundiária do território reivindicado como reserva indígena, a ocupação ocorreu como forma de defesa do patrimônio histórico e imaterial nacional e indígena, contra a destruição, em curso, das edificações presentes no espaço. As lideranças do movimento afirmam que o governo do Estado não está cumprindo com os compromissos. O contrato de gestão privada do Complexo do Maracanã ainda não foi desfeito nem mesmo revisto. Ao menos o Museu do Índio foi tombado este ano pela prefeitura após muita luta.
Como sempre, a falta de diálogo imperou. A Polícia Militar impediu que comida e mantimentos chegasse ao índio na árvore. A imagem é uma metáfora do Brasil, país que tem entre os índios o grupo mais vulnerável à fome, segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). A perda dos territórios em função de megaempreendimentos em todo o país está retirando milhares de indígenas de suas terras.