O Rio de Janeiro também faz parte dos 99%
Camila Nobrega
Do Canal Ibase
Em setembro de 2011, tiveram início os primeiros protestos do Occupy Wall Street, em Nova York, mais especificamente no Zuccotti Park, distrito financeiro de Manhattan. Passados dois anos, o cenário não é muito diferente. E o movimento se multiplica, com diferenças e semelhanças, em centenas de cidades pelo mundo. O nascimento destas manifestações é o mote do documentário “99% – o filme colaborativo do Occupy Wall Street”, que foi exibido no festival do Rio na semana passada e em breve estará disponível online. De alguma forma, o Rio de Janeiro faz parte disso. Foi este o motivo principal da vinda dos documentaristas Audrey Ewell e Aaron Aites para o festival. Eles queriam ver de perto o que está acontecendo na cidade do Rio, sem causar muito frisson. Assim os encontramos, quietinhos e anônimos, na frente da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, onde está localizado o Ocupa Câmara.
– O que houve por aqui? Soubemos que jogaram bombas nos professores. Ficamos muito estarrecidos, queremos entender as reivindicações do povo do Rio de Janeiro. Há algo que une essa indignação, que se assemelha muito ao que ocorre nos Estados Unidos – disse Ewell, logo que me aproximei para iniciar uma entrevista.
Logo após a eclosão dos protestos contra Wall Street, que na verdade se tornaram uma inspiração para uma crítica muito maior, ao sistema financeiro mundial, Audrey Ewell e Aaron Aites convocaram colaboradores em várias regiões dos Estados Unidos, abrindo a produção a todos que quisessem participar. O resultado é um documentário com filmagens em diversos estados americanos, que combinam histórias pessoais e análises de especialistas. É uma busca para entender o movimento e situá-lo junto a outras manifestações contemporâneas. O filme foi vencedor do Sundance Film Festival 2013.
– Não sei o suficiente sobre o Brasil. Mas estamos impressionados desde a grande manifestação de junho, sobre o aumento das passagens. Há algo que liga os acontecimentos ao redor do mundo. As pessoas estão buscando alternativas, porque a desigualdade está explodindo por todo canto – concluiu Ewell.
Aaron Aites foi direto ao ponto:
– Nos Estados Unidos, tínhamos leis que proibiam doações de empresas para políticos. Elas foram suspensas. Agora você vê os resultados. As taxas de desigualdade estão altíssimas. Se os políticos são financiados por empresas, a quais interesses eles vão atender quando chegam ao poder? Creio que o mesmo problema ocorre no Brasil.
Sim, ocorre. Por isso megaempreendimentos estão a todo vapor, enquanto saúde, educação e outros serviços públicos básicos estão sendo sucateados. E é também por isso que as pessoas estão nas ruas. E também filmando tudo por todo o país. Vamos ver onde a pressão popular vai chegar.