Protestos no encalço da CPI dos ônibus
Camila Nobrega
Do Canal Ibase
A cena no gabinete da presidência da Câmara dos Vereadores na manhã desta sexta-feira (9/8) nada tinha a ver com o marasmo reinante na casa após resoluções controversas. Acuados, os vereadores Chiquinho Brazão, Professor Uóston e Jorge Felippe – todos do PMDB – falavam ao telefone, gesticulavam e esperavam, após a realização de uma coletiva de imprensa feita às pressas. Eles são, respectivamente, o presidente da CPI dos Ônibus, seu relator e o presidente da Casa. Também são aliados do prefeito Eduardo Paes. Nenhum deles assinou ao requerimento para a instalação da CPI. E, não por acaso, foram encurralados no gabinete, onde os pomposos lustres da casa chegaram a tremer. À porta, batiam mais de 300 manifestantes.
Eles haviam se aglomerado desde o início da manhã na porta da Câmara, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, para acompanhar a sessão de abertura da CPI que aconteceria às 9h. A comissão tem como objetivo ampliar a fiscalização sobre a implantação (incluem-se aí licitações) e os serviços das empresas de ônibus da cidade.
A fila na porta da instituição se formou antes desse horário e andava a passos lentos, lentíssimos, o que teria ocorrido, segundo argumentos dos funcionários da Casa, devido ao jurássico sistema de registro de entradas. A reportagem do Canal Ibase também estava a postos, para cobrir a sessão. Em meia hora, vimos cerca de apenas 10 pessoas entrando. A ação foi considerada uma manobra da base governista, que, sem a pressão dos manifestantes, conseguiu aprovar os nomes dos dois vereadores.
– Não assinei porque não me procuraram – tentou justificar Professor Uóston, em entrevista aos jornalistas.
Enquanto isso, do lado de fora uma fila pacífica ainda estava formada, até que os seguranças da Câmara fechassem os portões. A alegação é de que houve princípio de confusão. Mas era claro para todos que estavam no local que a confusão só começou após o bloqueio da entrada. Revoltados – já que, como todo mundo sabe, trata-se da “Casa do povo”, como os vereadores gostam de lembrar -, as pessoas que estavam no local pediram, negociaram e, sem resposta, começaram a tentar forçar o portão. Houve quem o escalasse para conseguir cruzar a fronteira. Cena grotesca de uma democracia duvidosa. Até que, após muita pressão, os portões foram abertos e a instituição foi ocupada pelos gritos de “Brazão Ladrão”. O gabinete do vereador foi pichado. Estava declarada ali a Ocupação da Câmara do Rio de Janeiro, que tem como meta a saída de Chiquinho, Uóston, Renato Moura (PTC) e Jorginho da SOS, o terceiro peemedebista de uma comissão de quatro. Além disso, o movimento quer nova votação, com a expectativa de que o próprio autor da CPI, vereador Eliomar Coelho (PSOL), possa ser o presidente.
Quatro representantes entram para negociar com vereadores
Mesmo com dificuldade, por não ser um veículo de mídia tradicional, a reportagem do Canal Ibase conseguiu acompanhar a coletiva de imprensa. Enquanto manifestantes esbravejavam saculejando as portas, Chiquinho Brazão afirmou:
– Fui eleito democraticamente, me sinto à vontade e capacitado para presidir esta CPI – disse ele, amenizando o tom quando questionado sobre a possibilidade de a pressão popular aumentar. – Nunca digo desta água não beberei, mas não vejo sentido na minha saída. CPI não se decide no grito.
A fala do vereador era abafada pelos manifestantes que questionavam “que democracia é essa?”. Chiquinho Brazão é famoso por alguns escândalos. Um dos principais foi uma lista divulgada em que ele apareceu como líder em variação patrimonial, entre os cinco mais ricos da Casa: subiu 927% com imóveis avaliados em R$ 1,6 milhão no total, em 4 anos, entre 2004 e 2008. Ele é irmão do deputado estadual Domingos Brazão (PMDB), empresário do ramo de postos de gasolina.
O mais desdenhoso à ocupação foi o presidente da Casa, Jorge Felippe, que tentou apontar uma liderança para o movimento:
– Quem está aí fora não é o povo. É o PSOL querendo organizar tudo isso. São vândalos que botam fogo em uma decisão que foi tomada de forma democrática, de acordo com nossa democracia representativa.
Findada a coletiva, jornalistas e vereadores continuavam presos na sala, já que os manifestantes estavam à porta, esperando para serem ouvidos. A Polícia Militar foi chamada e iniciou uma negociação. Minutos depois, quatro representantes foram ouvidos na sala não por mais de 15 minutos.
A professora Deise Trindade atacou a votação feita sem presença do povo:
– O que queremos é uma discussão democrática. Fechar o portão é completamente antidemocrático. É ditatorial.
Documentarista e também professor, Pedro Rajão afirmou:
– 70% da população carioca dependem de ônibus para se deslocar. É uma discussão que tem a ver com a vida dos cidadãos. E precisamos enfrentar tudo de frente. Sabemos que a mulher do governador é advogada do grupo que controla os transportes no Rio. Os senhores sequer assinaram o requerimento para que a CPI fosse instalada, como querem que eu creia que essa investigação será bem conduzida.
Além deles, dois representantes, um secundarista e outro do DCE da UFRJ também argumentaram, pedindo anulação da votação. O pedido de criação foi feito após a polêmica decisão do Tribunal de Contas do Município (TCM) de arquivar o processo de suspeita de formação de cartel. O TCM acabou voltando atrás na decisão e pediu a devassa em 43 empresas de ônibus.
O relator Uóston tentou contemporizar:
– Já houve casos em que os relatores assumiram comissões que não haviam apoiado de início e elas deram certo – disse, cortando a conversa, apertando as mãos dos manifestantes e saindo da sala.
Chiquinho Brazão sequer se manifestou nesse momento. Vale lembrar aqui que cada CPI é formada por titulares e suplentes, indicados pelas lideranças dos partidos. Proporcionalmente, as maiores bancadas têm direito a maior número de vagas. E, assim, para começar a funcionar, os membros da comissão votam e elegem o presidente e o vice-presidente. Mas é incomum uma composição como a que foi assumida para esta comissão, onde o PMDB é predominante. É muito comum, também, que a presidência seja dada àquele que propôs a comissão. Por isso, os manifestantes continuam acreditando que a pressão pode reverter o quadro.
ong- nova casa do trabalho rj
10 de agosto de 2013 @ 16:53
ESTAMOS JUNTAS
Hylton Sarcinelli Luz
10 de agosto de 2013 @ 17:40
Muito boa e informativa a matéria. Parabéns à equipe.
Luana
10 de agosto de 2013 @ 18:53
Ótima reportagem.