Por um milhão de novos empregos
Enquanto o documento oficial da Rio+20 é escasso em alternativas para combater as crises sistêmicas que temos enfrentado, como o desemprego mundial e o aquecimento global, a sociedade civil sul-africana aponta uma alternativa. A revista Amandla!, cujo lema é “levando o poder a sério”, publicou em sua edição de dezembro passado, nº 22/23, um artigo-manifesto da campanha pela criação de empregos e, ao mesmo tempo, pela redução da emissão de gases do efeito estufa. O argumento é que medidas econômicas para reverter as mudanças climáticas podem gerar um milhão de postos de trabalho no país.
Veja a seguir um resumo desse artigo, publicado originalmente na revista Democracia Viva 48. A versão integral pode ser lida, em inglês, aqui.
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A África do Sul tem um dos índices de desemprego mais altos do mundo. Sindicatos, movimentos sociais e organizações ambientais formaram uma coalizão e iniciaram uma campanha por um milhão de novos empregos, que podem ser criados com medidas de combate à crise climática.
A África do Sul está em 12º lugar no ranking mundial de emissões de carbono. É o maior emissor no continente africano. Precisamos urgentemente reduzir nossa poluição. Precisamos usar a nossa riqueza natural para criar mais empregos, sem prejudicar o clima. Nós podemos e devemos:
- – produzir nós mesmos a nossa eletricidade do vento e do sol
- – deixar os nossos carros na garagem
- – reformar nossas casas e prédios para que eles consumam menos energia e usem a água de forma mais eficiente
- – produzir comida o suficiente para todos via técnicas como a agroecologia
- – proteger nossos recursos naturais
- – tratar dos problemas deixados pelo apartheid e fornecer serviços básicos decentes à população
Isso acarretará em muito trabalho, o que significa empregos, e nós temos muitas pessoas que precisam de emprego decente. Um milhão de empregos não será suficiente, pelo contrário, mas já ajudarão a reduzir a pobreza e restaurar a dignidade.
Ao criarmos um milhão de empregos em nosso país, podemos estabelecer um modelo para combater o problema socioambiental de forma genuína. Isso é cada vez mais importante, uma vez que as elites globais acumulam fracassos em relação às mudanças climáticas.
Enfrentamos a oposição de interesses poderosos, que lucram bastante com a mineração e a produção de energia. A campanha só terá sucesso com a mobilização de milhões de pessoas, trabalhadores, desempregados e ativistas.
Dizemos de forma clara que a crise climática exige grande transformação na maneira como vivemos. Precisamos de uma mudança no sistema, mas precisamos de uma ponte entre onde estamos agora e essa meta vital. A campanha por um milhão de empregos oferece essa ponte.
Energia renovável
Energia renovável reduz as emissões de carbono e cria mais empregos do que estações nucleares e a carvão mineral. Pelo menos, 76 mil empregos poderiam ser criados até 2020. Se a meta for ter 50% da nossa energia de fontes renováveis em 2020, isso criaria 150 mil empregos. A partir daí, deveríamos continuar a desenvolver as nossas estações renováveis para que em 2040 toda a nossa energia venha de fontes sustentáveis.
Transporte
Mudanças pequenas, mas significativas, em como nos transportamos podem criar pelo menos 460 mil empregos. O transporte é responsável por mais de 10% da emissão de gases do efeito estufa na África do Sul. Desse total, 85% vem do transporte rodoviário. Metade disso, de carros particulares.
Por volta de 2040, podemos ter emissões zero do setor de transporte, se:
- – desenvolvermos transporte movido a combustível alternativo
- – planejarmos melhor nossas cidades
Um número muito grande de novos empregos podem ser criados para:
- – expandir o transporte sobre trilhos
- – fabricar vagões, ônibus e táxis
- – adaptar o transporte atual para ser mais econômico e funcionar com combustível mais limpo
- – construir vias rápidas para ônibus
Agricultura industrial
A agricultura industrial, dominada por grandes corporações, é responsável por 11% das emissões sul-africanas. A produção industrial de alimentos fechou 750 mil postos de trabalho no país na década passada. A produção em pequena escala, ao contrário, usa técnicas que protegem o meio ambiente e é intensa em mão de obra.