Quando a manifestação toma partido
Rogério Daflon
do Canal Ibase
Professor universitário da FAAP e membro do grupo de apoio ao processo do Fórum Social Mundial, o professor José Correa Leite esclarece as dúvidas de quem está perplexo com as manifestações Brasil afora. Ele analisa os atores que estão em jogo: a esquerda, a direita, o Movimento Passe Livre, a massa despolitizada e a Rede Globo, detalhando cada um deles. Para ele, a origem do movimento é apartidária, mas não contra partidos. Entenda por quê.
Canal Ibase – Qual a visão geral que o senhor tem das manifestações?
José Correa Leite – Eu iria por partes. A primeira parte é afirmar que as manifestações refletem um descontentamento latente com o sistema político e com as condições de vida da população, em especial da juventude. Essas manifestações foram puxadas por movimentos de esquerda, sobretudo o Movimento Passe Livre (MPL), que liderou um protesto na capital paulista no dia 6 de junho contra o reajuste das tarifas de transporte.
Canal Ibase – Mas o Passe Livre se assume como movimento de esquerda?
José Correa Leite – O MPL se coloca como um movimento de luta antimercantilização e pela igualdade social. O MPL tem consciência de que os partidos de esquerda são seus aliados. Ontem (quinta-feira, dia 20) divulgou nota em que afirma que o MPL é apartidário, mas não antipartido. A nota segue assim: “Repudiamos os atos de violência contra pessoas de partido, assim como a violência policial.” Portanto, como as manifestações foram chamadas por um grupo de esquerda e teve um eco muito forte, o que está em jogo agora é a luta de classes.
Canal Ibase – Por quê?
José Correa Leite – Porque, em primeiro lugar, esse movimento encontrou um grande eco numa massa despolitizada e que lhe deu uma dimensão muito importante. E, além disso, houve uma entrada nas manifestações de outros atores políticos, que querem disputar essa massa despolitizada e não querem entregá-la para a esquerda. Eles são, de um lado, ativistas de direita, e, de outro, a Rede Globo, que vende uma interpretação, construindo um discurso em que se reforça esse sentimento antipartido, direcionando, num aspecto, contra o PT, e, de outro, contra movimentos e partidos de esquerda.
Canal Ibase – O senhor imagina uma agenda de esquerda nesse movimento?
José Correa Leite – Claramente a partir de agora existe uma disputa de rumos. Dessa forma, primeiro de tudo, é necessário uma unidade de esquerda, um melhor planejamento das manifestações e definições de bandeiras políticas além do transporte. Por exemplo: a questão da rejeição da proposta da cura gay, projeto de lei aprovado pela Comissão de Direitos Humanos. Isso é uma marca da direita, e a luta contra isso é algo claramente de esquerda. Hoje tem um ato para isso, vamos ver se a direita vai estar presente. Acho difícil. A PEC 37 (a medida quer assegurar exclusividade à polícia em investigações sem o Ministério Público) é mais complicado. Trata-se de um elemento cujo alvo é o PT, e o que se quer é evitar que uma investigação blinde partidos políticos, já que é o Ministério Público que tem investigado políticos. O PT também está construindo uma interpretação maluca de que há um golpe em andamento. É uma manobra para se defender dos ataques que está sofrendo, porque está no centro de todos os problemas. É o PT que vem legitimando as exigências da Fifa para a Copa do Mundo e, assim, as baianas, por exemplo, não podem vender acarajé no entorno do estádio. A Copa é elitizada, e o transbordamento da Copa é um elemento positivo, reflete uma consciência política. O PT, na verdade, é foco legítimo de rejeição tanto da esquerda como da massa despolitizada. E, desse jeito, o PT cria um alvo para que a direita possa canalizar esse sentimento antipartido. A Rede Globo, por sua vez, editorializou de tal maneira a cobertura que, obviamente, ressalta essa dimensão despolitizada, joga a ideia do vandalismo como elemento do processo dos atos, e ignora que existe uma luta política de correntes de direita e de esquerda. Mas a rejeição do partido reflete um ódio legítimo às instituições, porque elas têm sido impermeáveis à participação. Não foi por acaso que houve hostilidades contra membros do PT, do PSOL e, inclusive contra o MPL.
geiza
8 de agosto de 2013 @ 21:15
Gente eu ainda não entendi porque as pessoas não vao agora para as ruas pedir a cpi do metro, pelo jeito o rombo nos cofres publicos, faz o mensalao parecer fichinha.
Vamos nos unir povo e cobrar do governo uma cpi